Algoritmo da Netflix não é mágica, é tecnologia!

O termo “algoritmo” é uma palavra latinizada, derivada do nome de Al Khowarizmi, matemático árabe do século 19. Tem sido comum ouvir falar ou ler notícias sobre algoritmos e sua aplicabilidade em “coisas” que fazem parte do nosso cotidiano, o que não diminui a complexidade do tema. Muitas vezes os algoritmos são determinantes em nossas escolhas e nem fazemos ideia disso.

A pesquisadora da área, Elizabeth Saad, diz que “Na computação, um algoritmo é um procedimento criado para cumprir uma tarefa específica. Trata-se de um passo a passo computacional, um código de programação, executado numa dada periodicidade e com um esforço definido. Deste modo, desenhar um algoritmo é elaborar uma série de instruções com a finalidade de resolver um problema”.

No caso da Netflix, a frase “Decisões baseadas em emoções não são decisões”, citada pelo célebre personagem Frank Underwood, de House of Cards, seriado de maior sucesso do serviço de streaming, é uma metáfora de como a empresa se tornou no maior serviço de distribuição de conteúdo de cinema e TV online.

Afinal, mais de 80% dos conteúdos da Netflix são descobertos através das recomendações — curtidas e estrelas. E o que isso significa? Ao todo, três em cada quatro vídeos assistidos só foram acessados porque um algoritmo jogou na tela do assinante um filme que, muito provavelmente, ele ia gostar.

Exemplo disso é a própria House of Cards, nascida a partir do Big Data da Netflix, que permite à empresa conhecer o comportamento do seu consumidor e ter uma visão ampla e geral do produto que oferece, usando dados para orientar suas produções. O que isso quer dizer?

A Netflix já sabia que uma parcela considerável de seus assinantes havia assistido o trabalho de David Fincher, diretor de A Rede Social, do início ao fim. Sabia também que filmes com Kevin Spacey, protagonista da série, sempre foram bem avaliados, bem como a versão britânica de House of Cards, que já era distribuída com sucesso pela plataforma de streaming e serviu como base para a produção norte-americana.

Com essas três informações, a Netflix fez as contas e já sabia que a série seria um fenômeno antes mesmo de começar e acertou em cheio!

Como funciona o algoritmo da Netflix

“Sabemos que os gêneros são apenas a casca, e é por isso que trabalhamos duro para criar algoritmos que ajudem a quebrar essas noções pré-concebidas e tornar mais fácil para os usuários encontrar histórias que amem, mesmo em obras aparentemente improváveis”, explica Todd Yellin, vice-presidente de produto da Netflix e também responsável pela área de inovação, que inclui os algoritmos e o sistema de dados por trás das recomendações do que assistir.

Sendo assim, se a Netflix está acertando com você, não é mágica. É tecnologia. Prova disso é que atualmente todas as produções originais do serviço e a aplicação do orçamento de US$ 3 bilhões são baseadas na análise e mineração dos dados que a empresa possui.

Um exemplo desse esforço aconteceu em 2006, quando a Netflix anunciou o Netflix Prize, competição de machine learning e mineração de dados que condecoraria, com o valor de US$ 1 milhão, o algoritmo que pudesse “melhorar substancialmente a acuidade das previsões que revelam se alguém vai gostar do filme baseado nas categorias de preferência do usuário”.

De acordo com Saad “No campo das ciências da computação, um bom algoritmo é aquele que é “correto” (certo para o problema), “eficiente” (resolve o problema mais rapidamente e facilmente possível) e fácil de ser implementado no sistema computacional. Observamos isso sobretudo quando notamos que a curadoria realizada pelos algoritmos menos complexos tende a olhar para trás: considera o comportamento passado do usuário, o que ele comentou, recomendou, apreciou, leu. Conhecendo padrões e preferências, esse passo a passo matemático traz mais informações similares e afins para seu usuário, partir de uma varredura rápida e eficiente pelas bases de dados”.

E é isso o que a Netflix tem feito ao longo dos anos… Os assinantes, ao utilizarem o serviço que contrataram, produzem rastros digitais que são armazenados em bancos  de dados e recuperados em cruzamento com dados de outros usuários a fim de que conteúdos sejam recomendados e que novos produtos sejam produzidos.

O algoritmo usa um passo a passo dos procedimentos necessários para se realizar uma determinada tarefa. Através da programação de situações, um usuário do serviço de streaming recebe sugestões automáticas por ter curtido vídeos com determinadas características: roteiro, trama, ano de lançamento, diretor, perfil dos personagens, elenco e outras.

Mas como prever algo tão pessoal quanto o gosto de cada um?

Os algoritmos e especialistas da Netflix possuem habilidades analíticas para personalizar o atendimento, distribuir conteúdo, analisar melhores dispositivos e conhecer os hábitos dos clientes. Com isso, a empresa pode prever e recomendar ao usuário o estilo que mais combina com ele se baseando em seu comportamento na rede.

E tudo pode virar dado relevante para análise: O que você vê? Que horas você assiste? Como você procura? Qual dispositivo você usa? Em que pontos do filme você pausa ou avança? Por que você só assistiu o primeiro episódio daquela série? Quem são seus atores e diretores favoritos?

No artigo divulgado pela própria Netflix, baseado em uma análise realizada em mais de 40 países entre 2015 e 2017, a empresa traz as séries da Marvel como exemplo. Quem gosta de temas envolvendo ambiguidade moral e anti-heróis como visto nas séries “House of Cards” e “Dexter” foi direcionado para “Demolidor”. Se o humor inteligente de “Friends” e as personagens femininas fortes de “Orange is the New Black” fisgaram o espectador, “Jessica Jones” é uma recomendação que atenderá às expectativas. Enredos sobre perigo e consequências complexas são gatilhos para “Luke Cage” e a transição da juventude para vida adulta em séries configura um cenário que leva a recomendação de “Punho de Ferro”. Confira um esquema com os exemplos e as obras lançadas:

O uso de dados por Netflix – Termos de uso e políticas de privacidade

O que a Netflix faz com os nossos dados? Encontramos um artigo bem didático (referenciado abaixo), nele os autores dizem que “Assim como outras plataformas de serviços digitais, Netflix não explicita pormenores de como dados de hábitos de uso de seus usuários são coletados. Ela também não aclara de quais maneiras seu sistema de recomendação algorítmica opera ou em que medida há um limite de sua operação. Sem qualquer tipo de esclarecimento de detalhes, testes são realizados de forma autônoma por essa plataforma”.

E quais seriam as implicações éticas e democráticas no uso de dados pessoais pela Netflix? Confira nessa tabela:

ALZAMORA, Geane Carvalho; SALGADO, Tiago Barcelos Pereira; MIRANDA, Emmanuelle C. Dias. Estranhar os algoritmos: stranger things e os públicos de netflix. Revista GEMInIS, São Carlos, UFSCar, v. 8, n. 1, pp.38-59, jan. / abr. 2017

Algoritmo não é bola de cristal

Nem sempre os algoritmos acertam, mas a Netflix assume esse risco. Em entrevista à Folha em 2017, Yellin diz que “Alguns dos palpites vão superar nossos sonhos mais ousados, outros não. Não bradamos que os dados sejam uma bola de cristal”. Confira alguns erros e acertos da Netflix:

 

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